Daniel Sperb
Julho Verde: os primeiros sintomas são decisivos
Daniel Sperb
Cirurgião de cabeça e pescoço do serviço de Oncologia do Hospital Moinhos de Vento
São 4h33min. O paciente chega na emergência carregado. Apresenta enorme dificuldade para respirar e já não consegue falar. Sua esposa relata que, há semanas, o marido está com rouquidão e, mais recentemente, enfrenta dificuldade para dormir. Durante o atendimento, o plantonista diagnostica uma obstrução na laringe e chama o cirurgião de plantão para fazer uma traqueostomia de urgência. O procedimento dá novo fôlego ao homem.
O relato acima mostra a realidade de pessoas com tumores avançados na região da cabeça e do pescoço - que abrangem tireóide, boca, garganta, laringe, faringe, paratireoide, traqueia, pele, glândulas salivares e região sinonasal. São, na maioria das vezes, diagnósticos tardios, feitos quando os tratamentos disponíveis se tornam mais agressivos e invasivos.
Nesses quadros, além de quimioterapia e radioterapia, pode ser necessária a retirada total da laringe, acarretando um processo de recuperação longo e delicado, com acompanhamento multidisciplinar de enfermagem especializada, odontologista, nutricionista, fonoterapeuta e fisioterapeuta. Se descobertos no início, há possibilidade de tratamentos mais simples, com taxa de cura de cerca de 90%.
Para conscientizar a população sobre os riscos desses tumores, foi criada a campanha Julho Verde, que alerta para as principais manifestações desses tipos de câncer - muitas vezes negligenciadas. Tosse, rouquidão, desconforto para deglutir, pigarro com sangue ou nódulo no pescoço são indicativos de que um cirurgião de cabeça e pescoço ou otorrinolaringologista precisa ser consultado.
Pacientes fumantes devem ter cuidado redobrado. O tabagismo aumenta o risco de desenvolver a doença e esse risco cresce ainda mais quando associado ao consumo de bebidas alcoólicas. Contudo, também é possível ter câncer na região da cabeça e pescoço sem nunca ter fumado ou bebido, o que reforça a importância de atentar aos sintomas iniciais que se estendam por mais de 15 dias.
A prevenção passa, obrigatoriamente, por mudanças comportamentais: alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos e evitar consumo de álcool e de cigarros de qualquer tipo. Com o controle desses fatores é possível evitar aproximadamente 20 mil mortes por ano.
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